16.10.08
O Causo do Lobisômi e do Circo
Do ponto de vista do aprendizado, das descobertas e da formação de personalidade, a infância é a melhor fase de nossas vidas. Da infância não tenho muito que reclamar, apesar de passar por momentos difíceis e problemas que todos nós enfrentamos nessa fase da vida, o balanço final foi sempre positivo.
Tive uma infância muito rica e criativa, morando na periferia de São Paulo, brincando na rua até tarde. Recordo-me de diversas brincadeiras que as crianças de hoje, prisioneiras dos medos e contrastes da cidade, nem imaginam. Uma das grandes alegrias era o circo, mas não esses circos tecnológicos, esses circos multimídia que a TV e a publicidade nos mostram como as maiores atrações do mundo e que o ingresso custa um salário mínimo. O “meu circo” chamava-se Circo Casali.
O circo rodava o Brasil inteiro e todos os anos chegava ao bairro, como os grupos de ciganos errantes que naquela época eram comuns, e montavam seu acampamento num enorme terreno baldio próximo a minha casa. Era um circo com aspecto mambembe apesar da tradição que carregava e tinha tudo que um circo decente precisa, leões, elefantes, mágicos, atirador de facas. Os donos, um casal de malabaristas, criaram uma geração de filhos dentro do circo. Lembro-me das filhas Kátia e Carla, lindas, que faziam parte do espetáculo. Logo os Casali tornaram-se amigos de meus pais, eles freqüentavam nossa casa e nós freqüentávamos o trailer deles. Eu passava o dia inteiro brincando entre as lonas e os trailers junto com as crianças do circo. Certa vez teve apresentação do balão mágico, ou trem da alegria (nunca sei diferenciar), e eu e minhas irmãs brincamos de esconde-esconde, pega-pega com eles, Jairzinho, Simoni, Juninho Bill, aquela turma toda, era muito divertido. Todos os artistas que se apresentavam por lá ficavam no trailer dos donos e nós íamos lá para conhecê-los, conversar com eles. Assim foi com a dupla sertaneja, que na época era um sucesso, Cacique e Pajé, Gugu Liberato e vários outros. Meu pai contou-me recentemente (não me lembro disso) que certa vez Os Trapalhões apresentaram-se no circo e que eles foram visitar minha casa! Meu pai conta (e eu tenho o maior orgulho disso) que deu um uísque de presente pro Mussum!!!
Cheguei ao ponto que eu queria, contei toda essa história do circo pra falar sobre um lobisomem que espalhava o terror no bairro nessa época. Lembro-me que todos assustados evitavam sair à noite com medo dos ataques que eram cada vez mais freqüentes. Todo mundo comentava sobre o lobisomem, alguns conseguiram vê-lo e no ápice do pânico coletivo o circo estava no bairro. A esposa do dono do circo relatou que durante uma noite eles acordaram assustados com o barulho de um animal, que pelo rosnar parecia gigantesco. Com muito medo as crianças choravam e o pai não teve coragem de abrir a porta do trailer. O lobisomem aproximou-se do trailer e tentou arrombar a porta. Tinha uma força fenomenal, arranhou e espancou a porta durante um bom tempo deixando todos aterrorizados e por fim foi embora. Essa eu posso falar com todas as letras, fui testemunha ocular dos estragos que o bicho fez na porta, que de metal por conta do trailer, guardou as cicatrizes do monstro. Agora se era realmente um lobisomem? Isso não temos como saber, mas que era bem forte e tinha garras bem afiadas, tinha.
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1 comment:
Muito bacana esse blog. Parabéns comandante!
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